FRAMBOESA CRÍTICA: “Eu Sou Piaf”
- Portal Framboesa
- 20 de nov.
- 3 min de leitura
Semana passada a web novela 'Eu Sou Piaf' chegou a exibição do capítulo de número cinco, trazendo uma história envolvente e emocionante para quem acompanha a trama de Fred Reids na estúdio

Os primeiros capítulos de Eu Sou Piaf apresentam uma história carregada de emoção, delicadeza e uma sensibilidade muito particular. O que mais chama atenção ao longo da leitura é a forma como o autor retrata Marcelo — não apenas como um jovem sonhador, mas como alguém que vive entre dois mundos: o cotidiano pesado e limitado da vida real e o universo libertador que encontra em Edith Piaf. Essa dualidade está muito bem explorada e se mantém consistente ao longo dos capítulos.
A relação dele com Soraya é o fio de ouro que costura muitos dos momentos mais bonitos da narrativa. Soraya é vibrante, impulsiva, humana, e funciona quase como uma força da natureza que empurra Marcelo para a frente, mesmo quando ele acredita não ter nenhum passo dentro de si. Já Dora representa o amor que tenta proteger, mas também sufoca — e o texto consegue mostrar isso sem vilanizá-la. Norberto, por sua vez, traz o choque com a realidade dura, quase como um antagonismo estrutural, e não apenas pessoal.
Há um cuidado muito bonito com ambientação: os bares, a casa modesta, o restaurante de Dona Heloísa, a sorveteria, o parque… tudo tem cheiro, luz, textura. A escrita estimula os sentidos de forma bastante cinematográfica, e isso fortalece demais a imersão.
O auge emocional desses capítulos está justamente nos momentos de apresentação — quando Marcelo se transforma em Piaf. O texto muda de gravidade nesses trechos: fica mais visual, mais tenso, mais íntimo. É como se o autor dissesse, sem dizer, que ali Marcelo finalmente respira.
A primeira apresentação fracassada é especialmente bem construída: é dolorosa, humana e verossímil. Quase dá para sentir o ar pesado do bar, a insegurança, a vaia que corta. Já a segunda apresentação, no Capítulo 4 e 5, funciona como uma espécie de renascimento: Marcelo encontra firmeza, encontra um público e, pela primeira vez, encontra a si mesmo — mesmo que ainda com medo.
O Capítulo 5 também introduz um elemento novo: Renato. A forma como ele observa Marcelo, e como Soraya percebe isso, adiciona um sabor inesperado, quase de descoberta pessoal, e amplia o universo emocional do protagonista.
E há o que melhorar. Às vezes o texto se estende um pouco mais do que precisa, especialmente em diálogos que poderiam ser mais enxutos sem perder força. Alguns momentos poderiam aprofundar ainda mais o conflito interno de Marcelo (o leitor sente a dor dele, mas quase sempre pela superfície; seria interessante mergulhar mais em seus pensamentos). Existe uma repetição de estrutura em algumas cenas de incentivo (Soraya dando força + Marcelo inseguro). Embora funcione, corre o risco de soar previsível se muito repetido. Alguns trechos poderiam ganhar uma dose maior de sutileza emocional — há momentos em que tudo é dito muito claramente, quando poderia ser mostrado.
Eu Sou Piaf tem alma — e isso já coloca a obra em um nível acima da média. É uma narrativa que abraça a fragilidade humana sem medo, que enxerga beleza no que é torto, sensível e improvável. Os cinco capítulos apresentam um protagonista cheio de nuances, uma amiga inesquecível, e um universo que mistura dureza e poesia.
Há potencial imenso para elevar ainda mais o drama, explorar mais fundo o conflito de identidade de Marcelo e construir arcos ainda mais fortes ao longo da história. Mas, como início, é um trabalho sólido, cativante e cheio de emoção.
⭐ Nota: 9,0 / 10


Comentários